Internações por infarto aumentam mais de 150% no Brasil

Levantamento do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) mostrou que entre 2008 e 2022 o número de internações por infarto aumentou muito no Brasil. Entre os homens, a média mensal teve uma alta de 158%, e entre as mulheres, de 157%.

 

Recentemente, um levantamento do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) mostrou que entre 2008 e 2022 o número de internações por infarto aumentou muito no Brasil. Entre os homens, a média mensal teve uma alta de 158%, e entre as mulheres, de 157%. O estudo do INC leva em consideração dados do Sistema de Internação Hospitalar do Datasus, do Ministério da Saúde e, por isso, cobre todos os pacientes brasileiros que usam o serviço do Sistema Único de Saúde (SUS), o que representa de 70 a 75% de todos os pacientes do país. 

Essa alta no número de internações por infarto, que muitas vezes resulta em óbito, está associada à presença de fatores que são risco para as doenças cardiovasculares: má alimentação, tabagismo, consumo excessivo de álcool, estresse, histórico familiar, diabetes, colesterol alto e hipertensão. Além disso, o frio também aumenta as chances de infarto em pessoas com aterosclerose (placas de gordura nas artérias), uma vez que as baixas temperaturas levam à contração dos vasos sanguíneos. Dados do INC indicam que em 2022, o número de infartos no inverno foi 27,8%.

 

População mais jovem

O cardiologia Nivaldo Filgueiras, vice-presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM) e conselheiro do Conselho de Administração da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), destaca que o estudo no INC mostra um ponto preocupante em relação ao aumento de internação por infarto na faixa da população mais jovem, entre 15 e 49 anos (aumentou 5% entre os homens e 7,6% entre as mulheres) o que significa que o diabetes, a obesidade e outros fatores de risco, com destaque para a alimentação desequilibrada com alta ingestão de  alimentos ultraprocessados, já está presente entre pessoas muitos jovens, contribuindo para agravar a ocorrência de infarto e outras doenças cardiovasculares. “Além do estudo indicar que mais de 50% da população tem sobrepeso e 20% são obesos, outro fator de risco presente em pessoas jovens é cigarro eletrônico, que usa uma carga muito alta de nicotina líquida por ml, se tornando um fator de risco que agrava  as chances de enfartar”, alerta Dr. Nivaldo.

 

Envelhecimento

Embora haja aumento do número de internação por infarto entre pessoas jovens, o professor, cardiologista e intensivista Mário Seixas Rocha, Coordenador do Hospital Mater Dei, ressalta que o envelhecimento populacional é um dos principais fatores para o aumento de ocorrência de infarto e problemas cardiovasculares nos últimos anos. “O infarto ocorre com maior frequência em indivíduos de faixa etária avançada, que registram mais casos de fatores de risco. Soma-se a isso, a crescente taxa de sobrepeso e obesidade observada na população ao longo dos anos, associada ao sedentarismo. E em regiões onde o inverno é rigoroso, também se observou aumento de eventos cardíacos nos meses frios, maior do que em meses mais quentes, provavelmente devido à maior incidência de quadros inflamatório/infecciosos”, ressalta.

 

Prevenção

Dr. Mário Rocha alerta que, embora não abranja a totalidade da população brasileira, o estudo do INC lança um olhar sobre uma parcela significativa da população, portanto, as informações merecem ser objeto de reflexão, também chamando a atenção para a população jovem, que não está isenta de ocorrências cardiovasculares  “Isso é decorrente da presença de múltiplos fatores de risco associados, somado ao estresse cotidiano imposto pelo estilo de vida e sedentarismo, frequentemente relacionado ao uso intensivo de dispositivos eletrônicos e tabagismo”, destaca o médico.

Dr. Mário destaca, ainda, que em até 25% dos casos, a presença da Doença Arterial Coronariana (DAC), como o infarto agudo do miocárdio, pode estar correlacionada com a existência de outras patologias cardiovasculares, como a doença cerebrovascular (que pode levar a um AVC), bem como a doença arterial periférica. “Tais condições compõem um intricado conjunto de enfermidades associadas”, conclui o médico.

Os médicos ressaltam para a importância  do checkup médico, que deve ser feito periodicamente, para a prática de atividade física e da adoção de hábitos alimentares saudáveis e estilo de vida sem fatores de risco. “É fundamental realizar os exames cardíacos que são solicitados no checkup médico, sobretudo quando há histórico familiar de doenças do coração, em que o cuidado e a atenção devem ser redobrados. Também é fundamental mudar o estilo de vida para ganhar mais bem-estar e qualidade de vida”, destaca Dr. Nivaldo.

De acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 17,5 milhões de pessoas morrem todos os anos em função das doenças cardiovasculares, uma das principais causas de morte no mundo. No Brasil, segundo a SBC, estima-se que 400 mil pessoas podem morrer anualmente por problemas do coração.

 

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