Aumento nos casos de câncer de intestino no Brasil

Os casos de câncer de intestino aumentam, em média, cerca de 5% a cada ano no Brasil. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) projeta mais de 45 mil novos casos para o triênio de 2023 a 2025 e a alimentação está os principais fatores de risco (gordura, embutidos e carne vermelha).

 

O câncer de intestino tem cura, e quanto mais cedo for descoberto maiores são as chances. As entidades médicas alertam que a população deve estar cada vez mais ciente que a doença pode ser evitada, já que, em geral, 85% dos casos são provocados por fatores de risco ambientais.

No entanto, os números só crescem. Na última década, foram 768.663 hospitalizações somente no SUS para tratamento de tumores colorretais. Na Bahia, apenas no ano passado, foram 2.728 internações, o que indica um crescimento de 49% em relação a 2013. Um levantamento realizado pelas Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) mostra que, em média, por dia, 265 brasileiros são hospitalizados no SUS por complicações graves relacionadas ao câncer de intestino. E em 2022, esse número atingiu o maior patamar da década.

Os casos aumentam, em média, cerca de 5% a cada ano. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) projeta em 45.630 o número de novos casos no Brasil para o triênio de 2023 a 2025. Para o médico oncologista Robson Freitas de Moura, o aumento de casos acompanha o crescimento da população, mas, segundo ele, o incremento da incidência de câncer de intestino chama a atenção. Ele ratifica que apenas 15% dos casos, em geral, resultam de fatores genéticos e que os fatores ambientais estão ampliando o problema, sobretudo a dieta, rica em gorduras, embutidos e com consumo excessivo de carne vermelha. “A carne de boi tem muitos benefícios, mas a dieta balanceada é muito importante”, citou Moura, que é ex-presidente e atual diretor Administrativo da Associação Bahiana de Medicina (ABM).

Também conhecido como câncer colorretal, ele engloba os tumores surgidos na parte do intestino grosso, chamada cólon e reto, e no ânus. “A cura está associada ao estágio na qual se apresenta. Se for na fase inicial, a taxa é alta, e passa dos 85%. E mesmo que se apresente de forma avançada, mas localmente, as chances para debelar a doença chegam a 80%”, explicou Dr. Robson. A maior dificuldade, segundo ele, ocorre após a metástase

 

RASTREAMENTO

“O grande problema, para a maioria da população, é que esta não tem acesso ao rastreamento preventivo, pois isso muitos já chegam à rede de saúde, sobretudo pública, com a doença avançada. A profilaxia deveria ser mais comum e fazer parte de um programa de Estado”, afirmou o oncologista. Os casos têm origem a partir de um pólipo, tipo de lesão na mucosa do intestino. Em uma colonoscopia esses pólipos podem ser retirados, prevenindo, assim, a doença.

Quem não tem histórico de casos familiares, deve fazer a colonoscopia, segundo Moura, pelo menos a partir dos 50 anos. Se teve, o indicado é fazer a partir dos 40. Caso o exame não apresente pólipos, o mesmo deve ser repetido a cada cinco anos. Se apresentar, e dependendo da quantidade, o médico indicará o melhor prazo para retorno. Outro exame importante é o Teste FIT, que aponta sangue nas fezes, mesmo oculto a olho nu.

Robson Moura destaca que há muitas unidades e serviços na Bahia que oferecem acesso ao atendimento qualificado no diagnóstico e no tratamento. Na rede privada, todos os grandes hospitais têm estrutura, e na rede pública existem dois tipos de instituições autorizadas pelo Ministério da Saúde para tratamento de câncer: os Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), a exemplo do Hospital Aristides Maltez, e as Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), em hospitais de cidades como Feira de Santana, Juazeiro e Vitória da Conquista. “Infelizmente a fila é muito grande, pois, no estado, a quantidade de unidades não dá conta do número de pacientes que demandam tratamento de câncer”, informou.

 

AÇÃO SOCIAL 

Uma comitiva formada por médicos de todo o País realizou no município de Cairu (BA) uma ação social que resultou na realização de 169 colonoscopias, 13 endoscopias digestivas altas e 11 colonoscopias e endoscopias Digestivas Altas combinadas. A mobilização, organizada pela SOBED, SBCP e FBG, proporcionou a retirada completa de lesões pré-malignas (pólipos) no intestino, além do diagnóstico do câncer colorretal através de biópsias das lesões suspeitas encontradas nas colonoscopias.

De acordo com Victor Galvão, presidente da SOBED na Bahia, a ação, além de garantir um impacto positivo na vida da população da região, também proporcionará informações científicas, já que os dados serão tabulados e resultarão em publicações nacionais e internacionais sobre o tema. Em 76 pacientes foram colhidos materiais para estudo hispatológico. “A população não tem acesso a um sistema de rastreamento do câncer de intestino de maneira organizada e padronizada oferecido pelo poder público. Por isso é importante alertar e conscientizar os gestores para que apoiem e aprovem o rastreamento do câncer de intestino como medida de saúde pública, para que consigamos diagnosticar e tratar precocemente, de forma menos evasiva e com menos custos”, enfatizou Galvão.

 

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