"Vírus do beijo” pode aumentar 32 vezes o risco de esclerose múltipla

Estudo da Universidade de Harvard aponta que o vírus EBV – o “vírus do beijo”, pode estar entre as causas da esclerose múltipla em pessoas geneticamente suscetíveis

 

A hipótese de que o “vírus do beijo” (vírus Epstein-Barr – EBV) pode ser uma das causas da esclerose múltipla (EM) ganhou força. Um recente estudo conduzido pela Universidade de Harvard, nos EUA, e publicado pela revista Science, analisou amostras de 10 milhões de jovens adultos e apontou que esse vírus pode aumentar em 32 vezes o risco de desenvolvimento da EM, doença que atinge mais de 2,8 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 40 mil pessoas convivem com a doença.

Embora exista a “facilidade” de transmissão, uma vez que, estima-se, cerca de 95% dos adultos convivam com o agente infeccioso do vírus EBV, isso não significa que todo mundo pode ter a EM. “Ainda há questões não respondidas, porém, é consenso que o EBV preenche praticamente todos os critérios para ser considerado um dos causadores da EM nos pacientes geneticamente suscetíveis. Mas é importante salientar que somente a infecção pelo vírus não determinará se a pessoa terá ou não a EM”, explica o neurologista André Muniz, coordenador do Capítulo de Neurologia da clínica AMO.

O especialista explica que a esclerose múltipla é uma doença determinada pela interação entre uma predisposição genética e fatores ambientais, como as infecções virais, baixos níveis de vitamina D, tabagismo ativo ou passivo, obesidade na adolescência e altas altitudes. Portanto, é essa interação que aumenta o risco isolado de cada um. “Não existe, até o momento, um modelo experimental que comprove que o EBV cause a EM”, reforça Dr. André.

 

O que esperar

O neurologista esclarece que, no futuro, vacinas ou terapias anti-EBV podem ajudar a prevenir ou até mesmo curar doenças imunomediadas, como a EM, porém, ainda não foram testados adequadamente. “Recentemente, o laboratório Moderna informou que está na primeira fase do desenvolvimento da vacina de mRNA, iniciando testes em cerca de 270 pessoas. No entanto, neste primeiro momento, do ponto de vista clínico, não muda em nada o acompanhamento e o tratamento dos pacientes com EM”, ressalta o neurologista.

 

Sobre o vírus EBV

O vírus Epstein–Barr (EBV) é um dos mais comuns em humanos, cuja infecção ocorre pela transferência oral de saliva – por isso é conhecido como “vírus do beijo”. Tem a capacidade de infectar diversos tipos de células, especialmente do sistema imune. Está associado a diversas doenças, como a mononucleose infecciosa, alguns tipos de câncer e outras doenças autoimunes, porém, somente um pequeno número de indivíduos desenvolve doenças relacionadas ao EBV.

 

Sobre a esclerose múltipla

A esclerose múltipla é a doença desmielinizante inflamatória autoimune mais comum do sistema nervoso central, que afeta mais mulheres do que homens, com idade média do início da doença entre os 28 e os 31 anos.

Dentre os principais sintomas da EM estão: dormência, sensação de alfinetadas no corpo, fraqueza muscular, perda de visão ou visão dupla, tontura, problemas para andar ou falar, falta de controle no intestino ou bexiga, entre outros.

A principal causa da doença é a predisposição genética (com alguns genes já identificados que regulam o sistema imunológico), combinada com fatores ambientais, como as infecções virais (caso do EBV), baixos níveis de vitamina D, tabagismo ativo ou passivo e obesidade na adolescência.

A depender de como progride, a EM pode ser classificada em três tipos:

Recorrente-remitente (EMRR) – É o tipo mais comum, com 85% dos casos. Os sintomas vêm e vão, podendo durar dias a semanas e geralmente melhoram lentamente.

Secundária progressiva (EMSP) – Algumas pessoas que começam com EM recorrente-remitente atingem um estágio em que os sintomas começam a piorar constantemente.

Primária progressiva (APP)– Os sintomas pioram constantemente desde o início com acúmulo de incapacidade.

 

Diagnóstico

A suspeita começa na avaliação clínica e o diagnóstico é confirmado através de alguns exames: ressonância magnética do cérebro e da medula espinhal; estudo do líquor; um teste chamado "potenciais evocados" ou "respostas evocadas", feito através de eletrodos que observam os sinais elétricos no cérebro e na medula espinhal; além da tomografia de coerência óptica, que usa uma luz especial para observar o interior dos olhos em busca de sinais de comprometimento da doença.

 

Tratamento

O protocolo farmacológico envolve medicações orais, subcutâneas e aplicações endovenosas com intervalos específicos e definidos pelo médico neurologista. De acordo com Dr. André Muniz, o tratamento busca abreviar a fase aguda, aumentar o intervalo entre um surto e outro e diminuir a progressão. “Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, com início do tratamento precoce, menores os riscos de progressão da doença”, alerta o neurologista. Além disso, é feita uma abordagem ampla com recomendações sobre estilo de vida, alimentação, atividade física e controle de aspectos emocionais.

 

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