O mal súbito pode levar à morte súbita? Entenda como agir

Condições distintas, mas muitas vezes relacionadas, o mal súbito e a morte súbita exigem atenção, resposta rápida e, em alguns casos, prevenção com tecnologias como o CDI.

 

Nem todo mal súbito leva à morte, mas todo caso merece atenção.

O recente falecimento repentino de uma jovem estudante universitária, na Bahia, trouxe à tona um tema que ainda gera confusão: afinal, como agir diante de um mal súbito - e como evitar que leve à morte súbita?

“O mal súbito pode ser a janela de oportunidade para intervenção precoce e prevenção da morte súbita”, alerta o cardiologista Marcos Barojas, diretor da ABM (Associação Bahiana de Medicina).

O especialista explica que mal súbito é uma manifestação clínica aguda que altera o equilíbrio fisiológico do organismo, podendo se apresentar como tontura, desmaio, dor no peito, visão turva ou formigamentos. Já a morte súbita é o desfecho fatal que pode ou não decorrer de um mal súbito em até 24 horas após o início dos sintomas.

As causas mais frequentes de morte súbita variam entre jovens e adultos. E em adultos, na maioria das vezes, está ligada à doença aterosclerótica, que também “pode afetar cérebro, rins e até os olhos’, explica o médico.

 

E como agir diante de um mal súbito?


De acordo com o médico “cada minuto conta. Após 10 minutos sem suporte, a mortalidade é de 100%”.

O atendimento de emergência é crucial e deve seguir uma sequência de ações:

• Reconhecimento precoce do mal-estar;

• Acionamento rápido do SAMU (192), com clareza nas informações;

• Início imediato da massagem cardíaca (RCP), com compressões fortes e rápidas no centro do tórax;

• Uso do Desfibrilador Externo Automático (DEA), se disponível, para avaliar e aplicar o choque elétrico, caso indicado.

 

E as causas?

 

De acordo com o especialista, as principais causas são:

Em jovens, predominam condições genéticas e estruturais, como miocardiopatia hipertrófica (coração geneticamente mais espesso); miocardites virais; canalopatias congênitas (como QT longo ou síndrome de Brugada); alterações do trajeto das coronárias.

Em adultos acima de 35 anos, a principal causa é a aterosclerose coronariana: obstruções por placas de gordura; infarto agudo do miocárdio; fatores de risco como hipertensão, diabetes, tabagismo e obesidade.

 

Quando é indicado o CDI?


O cardiodesfibrilador implantável (CDI) é um tipo de marcapasso especial capaz de reconhecer ritmos cardíacos perigosos e tratá-los, inclusive com choque elétrico interno. “O CDI não é apenas um desfibrilador — ele também realiza estímulos elétricos que tentam corrigir o ritmo antes de aplicar um choque”, destaca Dr. Barojas.

As principais indicações são para prevenção secundária - para quem já sobreviveu a uma parada cardíaca sem causa reversível; e para prevenção primária -  para pacientes com alto risco de morte súbita.

 

E após o ocorrido?


Quem já passou por um mal súbito ou recebeu um choque do CDI deve ter cuidados especiais. Isso inclui:

• Avaliação imediata em unidade de saúde;

• Revisão do aparelho por arritmologista;

• Monitoramento por telemetria, que permite ajustes remotos no CDI;

• Acompanhamento clínico para investigar causas e evitar recorrências.

“Cada episódio precisa ser analisado com atenção. A recorrência é possível, e o acompanhamento é essencial para garantir a eficácia e a segurança do CDI”, conclui o médico.

 

Ambientes públicos também devem estar preparados


O tempo é um fator determinante para a sobrevivência em casos de parada cardíaca. Por isso, além da ação rápida de quem presencia o evento, a presença de equipamentos adequados pode fazer toda a diferença no desfecho, conforme explica o cardiologista. “Lugares com alto fluxo de pessoas, como shoppings, estações de metrô e aeroportos, devem contar com desfibriladores externos automáticos. Assim como existem extintores de incêndio, deve haver esse tipo de suporte de vida”, defende o Dr. Marcos Barojas.

Ele também destaca a importância de campanhas de capacitação da população para o reconhecimento precoce dos sinais e a realização das manobras de emergência, como a massagem cardíaca.

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