Vida longa e próspera: veja como viver mais e melhor!

A expectativa de vida do brasileiro vem aumentando cada vez mais: 75,5 anos em 2018, contra 72,7 anos, em 2007, número que estava em 72,3, em 2006, e em 69,3, em 1997. De acordo com as pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ao longo da última década a longevidade foi maior entre as mulheres, com um aumento de 73,2 para 76,5 anos, enquanto para os homens o acréscimo foi de 65,5 para 69 anos. O estudo revela, ainda, que a população acima de 60 anos é a que mais cresce no país: nos próximos 25 anos aumentará o dobro em relação ao número atual, 14,5 milhões, e somará 30 milhões de pessoas. Embora estejam vivendo mais, as pessoas nesta faixa etária enfrentam hoje no país a precariedade das condições de vida e de assistência à saúde.

“A longevidade não tem sido acompanhada da melhoria da qualidade de vida”, observa a geriatria e gerontóloga Josecy Maria de Souza Peixoto. Coordenadora da residência médica de Geriatria das Obras Sociais de Irmã Dulce e professora desta especialidade na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, ela afirma que, apesar dos expressivos avanços nos recursos terapêuticos, as condutas médicas têm sido praticadas de forma imediatista. “Só se trata a pessoa quando ela apresenta as doenças da velhice, que podem ser rastreadas, prevenidas e tratadas precocemente”, adverte a médica.

O perfil do idoso começa a se delinear desde cedo na vida do indivíduo. “A massa óssea é formada até os 18 anos, por isso, se o suprimento de cálcio for comprometido nesta fase, o risco de desenvolver osteoporose, à medida que o corpo envelhece, é maior”, ressalta Josecy Peixoto, diretora técnica da Clínica do Idoso. Segundo a médica, a partir dos 45 anos é a época recomendada para iniciar o acompanhamento médico, em busca de uma velhice mais saudável. “O envelhecimento é um processo fisiológico natural, que não pode ser evitado, mas é possível controlar doenças que, se não forem tratadas devidamente, não só se agravam como causam comorbidades ou outros males associados”, enfatiza.

Os atuais protocolos de condutas médicas são voltados para o controle de manifestações como neoplasias ou tumores, problemas cardiovasculares, dislipidemia ou taxa de colesterol, e a osteoporose, doença metabólica que fragiliza os ossos. “Os recursos terapêuticos e diagnósticos avançaram bastante nas últimas décadas, junto com o lançamento de drogas mais potentes, com menor efeito residual e usadas mais espaçadamente”, observa a geriatra Josecy Peixoto. Ela informa que não há estudos conclusivos sobre a eficácia de algumas terapias para a saúde na terceira idade, a exemplo da reposição do hormônio testosterona e do consumo do extrato da planta ginkgo biloba, com suas aludidas propriedades tônicas e antioxidantes.  

Corpo ativo e dieta adequada

Na avaliação do geriatra Rômulo Meira, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) - Seção Bahia, o processo de envelhecimento não mudou na espécie humana. A grande transformação diz respeito às condições de vida e às descobertas da ciência e da medicina, sobretudo nos últimos 50 anos. "Exemplos como o de dona Canô, matriarca da família Veloso que chega com lucidez e ativa aos cem anos, são cada vez mais comuns", diz Meira. Nas últimas cinco décadas, os índices de longevidade têm evoluído no mundo inteiro, mas o Brasil é o país onde as taxas de envelhecimento têm o maior crescimento proporcional.

As estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que a população idosa no Brasil crescerá 16 vezes contra cinco vezes a população total, entre 1950 e 2025. Desta forma, em termos absolutos o país será a sexta maior população de idosos do mundo. As pesquisas demográficas revelam que o aumento desta população é resultado, basicamente, da redução das taxas de mortalidade e de fecundidade, com diminuição da média de filhos por casal em função do planejamento familiar.

A inexistência de políticas públicas efetivas de assistência ao idoso é um dos principais desafios na atualidade. É grande o número de idosos que não dispõem de recursos suficientes para viver dignamente, com direito à moradia, alimentação e remédios. Esta situação reflete no agravamento das complicações causadas pelas doenças crônico-degenerativas e no aumento do número de internamentos hospitalares. Na avaliação do geriatra Rômulo Meira, trata-se de um problema de saúde pública que deve ser tratado como prioridade.

Há dois aspectos indispensáveis para atravessar a maturidade com mais qualidade de vida: manter o corpo ativo e a alimentação adequada.  Segundo Rômulo Meira, não há mais dúvida de que o grande vilão é o sedentarismo. "Não existe fator tão fortemente comprovado para a qualidade de vida do idoso do que a atividade física regular", diz o especialista. Recomenda-se que atividades de baixo impacto como a caminhada sejam praticadas com regularidade, durante pelo menos meia hora, em quatro dias da semana. Esta prática é um verdadeiro elixir para a saúde cardiovascular.

Combate aos radicais livres

Fatores como a exposição contínua a poluentes, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, exposição ao sol sem proteção e consumo freqüente de alimentos com agrotóxicos favorecem o aumento de radicais livres. Em quantidade excessiva, estas moléculas afetam as estruturas celulares do corpo. Seu acúmulo no organismo acelera o envelhecimento celular. Para combater o excesso de radicais livres, o organismo necessita de antioxidantes.

As principais substâncias antioxidantes encontradas nos alimentos são as vitaminas C e E, presentes, respectivamente, nas frutas cítricas e legumes e nas castanhas, feijão e óleos vegetais, além de betacarotenos existentes na laranja e nos vegetais folhosos como cenoura, couve e brócolis; selênio, cuja fonte natural são frutos do mar, grãos e castanha do Pará; e flavonóides, achados em certas frutas, vegetais, chás, chocolate, vinhos, nozes e suco de uva, entre outros.

Na dieta da longevidade os nutricionistas recomendam, ainda, o ômega 3, ácido graxo encontrado em nozes, peixes de água fria como salmão, atum e sardinha, semente de linhaça e alguns óleos vegetais. O consumo desta gordura poliinsaturada tem sido associado a efeitos benéficos para a saúde cardiovascular, com a redução dos níveis de triglicerídeos no sangue. Alguns estudos epidemiológicos demonstraram que populações com alta ingestão de ômega 3 têm menor incidência de alguns tipos de câncer.

Frugalidade nos hábitos alimentares também colabora para a longevidade. A OMS recomenda que a ingestão total de gordura deve corresponder a 20 a 30% do total de calorias consumidas. Nesta parcela de calorias, entra o ômega 3. Então, nada de exageros à mesa.

Na plenitude da maturidade

Sabedoria e maturidade são conquistas que só se obtêm com o passar dos anos. Esta é uma das vantagens da ação implacável do tempo sobre a vida. "A grande vantagem é que hoje um homem ou mulher com 75 a 80 anos pode utilizar toda a sua experiência para viver melhor e usufruir o que construiu ao longo da existência", comenta o geriatra e gerontólogo Rômulo Meira. "O fator sexual, por exemplo, não vai pesar tanto em um homem ou uma mulher  completamente satisfeitos, que viveram plenamente toda a sua vida", acrescenta.

Especialista em reprodução humana, a médica Bella Zausner destaca uma mudança significativa no comportamento desta nova geração de pessoas que começam a entrar na faixa dos 60 anos. São os jovens da geração que nos Estados Unidos é chamada de Baby Boomers, dos nascidos no pós-guerra, entre 1945 e 1965. Para ela, “esta é a geração que quebrou tabus, como o do casamento eterno e não se incomoda tanto com a diferença de idade dos casais e se programa para ter filhos mais tarde".

Além do consenso em torno da atividade física, Bella Zausner aponta quatro pilares fundamentais: alimentação, sono, humor e amor. "Viver feliz e intensamente é o grande desafio das pessoas que a cada dia alcançam mais facilmente os 70, 80, 100 anos”, diz. Isto porque, não pesa apenas o desgaste físico, mas as condições de isolamento e descaso com que os cidadãos mais maduros são tratados de maneira geral no meio social.

Alguns mitos rondam a chamada melhor idade, segundo a geriatra Josecy Peixoto. Ela cita o falso fundamento da velhice assexuada e a crença de que manifestações como a perda de memória e a incontinência urinária são inerentes à condição do idoso. “Estas situações são um sinal de doença”, pondera. Em sua opinião, é fundamental derrubar estes paradigmas e estimular o exercício cognitivo baseado nos laços de convivência e afetividade.

Proteção ao cérebro

Pessoas com relações sociais bem consolidadas estão mais protegidas de danos cognitivos na velhice. É o que demonstra o primeiro estudo que examinou a ligação entre os vínculos sociais e a doença de Alzheimer, publicado na conceituada revista Lancet Neurology. Os pesquisadores do Rush Alzheimer's Disease Center da University Medical Center, em Chicago (EUA), realizaram um estudo epidemiológico e clínico-patológico com mais de 1.100 pessoas idosas sem demência. Na ocasião da morte destes voluntários foi realizada autópsia cerebral e análise posterior de dados de 89 pessoas. Muitas delas possuíam placas e nódulos associados ao Alzheimer, mas não apresentavam manifestações clínicas da doença como demência, perda de memória e mudanças repentinas de comportamento.   

Para os pesquisadores, os achados sugerem que as teias de relações do indivíduo de alguma forma agem positivamente contra os danos causados pela doença. “São descobertas surpreendentes que referendam a importância de manter o cérebro em pleno exercício, através das conexões do indivíduo com o mundo que o cerca”, diz o professor livre docente de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Ailton Melo. Ele também chama atenção para a importância de proteger, literalmente, o cérebro: “pancadas na cabeça podem ter um efeito nocivo”

Diagnosticar precocemente e tratar doenças como Alzheimer e o Mal de Parkinson, principais doenças degenerativas do sistema nervoso nas pessoas acima de 60 anos, são alguns dos maiores desafios da neurologia na atualidade. A equipe da Divisão de Neurologia e Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Ufba vem desenvolvendo pesquisas importantes sobre estas patologias.  De acordo com o neurologista Ailton Melo, coordenador da Divisão, um destes estudos constatou que os portadores de Parkinson, além do tremor e dificuldades de realizar movimentos, apresentam perda de saliva e babam, em função da dificuldade de engolir. Nesta condição, eles não tossem e aspiram partículas de alimentos, o que leva a um quadro de infecção respiratória.

Os pesquisadores estão testando a aplicação de toxina botulímica, o botox, nas glândulas salivares e exercícios para melhorar a deglutição nos pacientes com Parkinson. “Em busca do diagnóstico precoce, estamos usando um kit importado dos Estados Unidos para verificar a influência da perda do olfato em familiares de primeiro grau de portadores da doença”, revela. O kit reúne mais de 10 cheiros comuns, como limão e banana. Durante quatro anos, serão acompanhados os primeiros sinais da doença para que os cuidados médicos sejam providenciados o mais cedo possível.