O aumento crescente da obesidade preocupa o setor de saúde

No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que um em cada cinco brasileiros já sofrem com o problema e a tendência é que, em menos de 10 anos, 68% da população poderá estar acima do peso.

 

O aumento da obesidade traz preocupação e já é considerado uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que estima um bilhão de pessoas obesas no mundo em 2030. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que um em cada cinco brasileiros já sofrem com o problema e a tendência é que, em menos de 10 anos, 68% da população poderá estar acima do peso.

É considerada obesa a pessoa que tem Índice de Massa Corpórea (IMC) igual ou acima de 30, e com sobrepeso acima de 25. Por ser uma doença crônica que traz complicações metabólicas para outras não transmissíveis, os especialistas alertam para a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção e conscientização, além de profissionais de saúde treinados e capacitados para lidar com estes pacientes. No Brasil, o crescimento da população obesa já impacta no setor de saúde, com custos e sobrecarga no Sistema Único de Saúde (SUS), não apenas pela maior necessidade de acompanhamento clínico no controle das comorbidades, mas também nos gastos com cirurgias e acompanhamentos psicológicos.

O problema também vai atingir o setor econômico, conforme revelou o Atlas da Obesidade 2022, publicado pela World Obesity Federation, destacando que se a obesidade continuar crescendo nesse ritmo, o impacto econômico aumentará dez vezes nos próximos 40 anos, atingido 3,3% do PIB global. “Até hoje, nenhum país conseguiu reverter a tendência de aumento da obesidade. Porém, diante dos números que não param de crescer, esperamos que condutas governamentais possam mudar este cenário. Do contrário, se tornará a doença que mais matará no mundo”, enfatiza o endocrinologista e metabologista Sergio Queiroz Braga, diretor técnico do Hospital da Obesidade. Indivíduos obesos têm risco aumentado de desenvolver complicações que contribuem para a morte prematura, como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, dislipidemia, apneia do sono, doenças musculoesqueléticas, alguns tipos de câncer, dentre outras. E, recentemente, representou gravidade para a Covid-19. 

 

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A endocrinologista Thaisa Trujilho, presidente regional da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD/BA) e diretora na Bahia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM/BA) revela que o aumento da obesidade é preocupante. “É fundamental a abordagem adequada do paciente na atenção primária, assim como se faz necessário conscientizar sobre as complicações. Ter esse entendimento é importante para que haja investimento em prevenção e tratamento, e em protocolos e diretrizes para atender da melhor maneira possível o paciente, seja no setor público ou privado”, reforça.

O médico Luiz Henrique Costa, experiente em cirurgia bariátrica e aparelho digestivo, revela que o número de obesos em busca de tratamento cirúrgico vem aumentando, e é preciso um olhar para a questão, e suas consequências. “A pessoa obesa fica limitada e com a qualidade de vida reduzida, o que afeta sua atividade profissional, sua saúde física e emocional, trazendo, inclusive, risco de vida”, reforça o cirurgião.

 

Causa e tratamento

Dr. Sérgio Braga destaca que uma série de fatores leva à obesidade, inclusive o estresse e a ansiedade. Por isso, a abordagem precisa ser ampla e multidisciplinar. “A obesidade é degenerativa e está na causa e agravamento de cerca de 190 doenças. Devido a este potencial, tem alto impacto na saúde do indivíduo e pode levar à morte”.

Dentre as principais causas estão fatores genéticos, metabólicos, ambientais e comportamentais, mas traz consigo a falsa percepção de estar associada, principalmente, à falta de motivação em emagrecer. “Muitas vezes, a obesidade é estigmatizada, o que acaba levando às escolhas inadequadas e ao sedentarismo. Tem que considerar as intervenções no estilo de vida de forma muito séria, sendo a primeira linha de ação para o controle do peso”, alerta Dra. Thaisa Trujilho.

É o que também enfatiza o cirurgião ao explicar que, embora existam técnicas cirúrgicas que ajudem na regressão e controle, a cirurgia, sozinha, não consegue curar o obeso. É necessária uma mudança no estilo de vida e acompanhamento multidisciplinar. “A cirurgia pode trazer esperanças, mas é fundamental que o tratamento aconteça também no ambiente do dia a dia e com acompanhamento no pós-operatório, incluindo psicólogos, além de nutricionistas e equipe médica”, revela Dr. Luiz Henrique Costa.

 

Obesidade infantil

Muitos dos adultos obesos já estavam acima do peso na infância ou adolescência, conforme estudos publicados pela OMS, revelando que a obesidade infanto-juvenil vem crescendo nos últimos 45 anos, registrando mais de 124 milhões de crianças e adolescentes obesos. Dra. Thaisa Trujilho alerta que este cenário é preocupante, uma vez que está associado ao surgimento de comorbidades na população jovem antes consideradas doenças "adultas", como diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemia. “O tratamento destes jovens é fundamental, visando reduzir a progressão da doença e o agravamento das complicações na idade adulta”, destaca. Estudos ainda demonstram que a autoimagem comprometida pela obesidade pode causar distúrbios psicológicos, como baixa autoestima e depressão.

 

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