Pé diabético: prevenção e autocuidado evitam complicações graves

Controlar o diabetes, fazer a prevenção e ficar atento aos sinais e sintomas nos pés são as melhores maneiras de evitar problemas mais graves. Confira 17 dicas de autocuidado que são fundamentais

 

O pé diabético é uma das complicações crônicas do diabetes mal controlado, que, em casos graves, pode desenvolver gangrena com perda do membro. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil acontecem, em média, 43 amputações por dia decorrentes dessas complicações, que podem ser evitadas com prevenção, cuidados e o devido acompanhamento. Calcula-se que metade dos pacientes diabéticos com mais de 60 anos apresentem sinais do pé diabético, como calos, rachaduras, espessamento das unhas, micoses, deformidades ósseas, feridas de difícil cicatrização e infecções.

Na Bahia, levantamento feito no período de 2008 a 2020, com o objetivo de avaliar a incidência de internações por amputações de pé, tarso e membros inferiores decorrentes de complicações por diabetes mellitus no Estado, revelou que o número de amputações aumentou significativamente nesse período, apresentando um aumento de 721%.

Em 2020, apesar da redução de internações por diabetes, comparado com 2019, houve um aumento de 46,8% na frequência de amputações. A pandemia da Covid-19 impactou nesse cenário, já que houve suspensão temporária de atendimentos nas unidades de saúde da Atenção Básica do Estado, além da retração das pessoas com diabetes em buscarem atendimento, mesmo aqueles com necessidades extremas. O levantamento também mostrou que o crescimento das amputações em 2020 foi maior na faixa etária a partir dos 40 anos, com maior ocorrência entre os 60 e 69 anos, e após os 80 anos.

 

As complicações podem ser evitadas

 

 

 

Uma parte significativa das complicações do pé diabético podem ser evitadas, por isso a prevenção e a atenção aos sinais e sintomas são as melhores maneiras de evitar problemas mais graves, e não se deve retardar ou negligenciar a busca por tratamento, de preferência com o apoio de uma equipe multidisciplinar, conforme explica a enfermeira e especialista em diabetes, Maria das Graças Velanes de Faria, membro da diretoria regional Bahia da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD/BA). “A abordagem e o tratamento do pé diabético, assim como nas demais condições crônicas de saúde, devem ser centrados no indivíduo, partindo de uma perspectiva ampliada que englobe o contexto em que ele vive, as dificuldades que ele enfrenta no dia a dia, e, finalmente, alcançando os aspectos inerentes à patologia e aos seus desdobramentos. Por isso, é muito importante o plano terapêutico ser compartilhado, incentivando a responsabilização do indivíduo com seu autocuidado e promovendo sua autonomia, bem como considerando o suporte social necessário e disponível”.

 

É preciso controlar o diabetes

Com o passar do tempo, a hiperglicemia prejudica gravemente o organismo, levando a uma série de alterações dermatológicas, neurológicas, ortopédicas e vasculares. O angiologista César Amorim, atual presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), explica que o pé diabético ocorre mais rapidamente naquelas pessoas que não fazem controle adequado de seus níveis de glicemia (açúcar) no sangue. “Indivíduos que tem diabetes durante 10 ou 20 anos começam a apresentar diminuição da circulação arterial e redução da sensibilidade dolorosa e térmica dos membros, a chamada neuropatia diabética. Taxas aumentadas de glicose no sangue, por longo período de tempo, podem causar esta neuropatia, que é sentida como um formigamento, agulhadas, dor, dormência, queimação ou fraqueza nos membros”, explica o médico.

Segundo a endocrinologista Reine Marie Chaves Fonseca, diretora do Centro de Diabetes e Endocrinologia do Estado da Bahia (CEDEBA) e vice-presidente da SBD/BA, muitas pessoas só recebem o diagnóstico de diabetes quando já estão há muitos anos com a doença, com as complicações vasculares já instaladas. Ela reforça que o principal meio de evitar o pé diabético e suas complicações é controlar o diabetes, assim que se tem o diagnóstico da doença. “O indivíduo que sabe que é diabético deve ter cuidados especiais com seus pés, fazendo o autocuidado diariamente e avaliação com especialistas. Sem dúvida, é fundamental a prevenção para o diagnóstico precoce”, avisa a médica.

 

Sintomas e sinais

Dores, inchaços e redução ou perda da sensibilidade nos pés são sintomas graves que precisam ser investigados rapidamente. Mas outros sinais indicam atenção e precisam ser levados a sério:

• Ressecamento excessivo da pele e pés

• Mudança na coloração da região (e também das unhas)

• Alteração na temperatura (pés muito frios)

• Cãimbras recorrentes nos pés e nas panturrilhas

• Pequenas lesões nos pés que não cicatrizam, como rachaduras e inflamações

• Bolhas hemorrágicas

 

Prevenção e autocuidado

 

 

As amputações de membro inferior são intervenções cirúrgicas consideradas como última opção de tratamento, uma vez que o objetivo principal é preservar o pé do paciente. Por isso, prevenir e cuidar é essencial.

Além de manter a taxa de glicemia sob controle e fazer exames regulares, é importante evitar certos tipos de calçados, redobrar a higienização dos pés, além de outros cuidados fundamentais.

 

Confira 17 cuidados essenciais:

  1. O tabagismo deve ser evitado, pois contribui para o agravamento da doença (estudos mostram que o maior número de casos de amputações ocorre em fumantes);
  2. Examinar os pés todos os dias (se precisar, com a ajuda de um familiar ou um cuidador orientado) para verificar se há bolhas, calos, rachaduras, ferimentos ou pele seca, incluindo as áreas entre os dedos;
  3. Realizar a higiene regular dos pés, seguida da secagem cuidadosa, principalmente entre os dedos;
  4. Ter cuidado com a temperatura da água, que deve estar sempre inferior a 37°C, para evitar o risco de queimadura;
  5. Usar cremes ou óleos hidratantes para pele seca, porém, não passar entre os dedos;
  6. Cortar as unhas em linha reta, nunca nos cantos, e depois usar lixa para acertar;
  7. Não utilizar agentes químicos, nem tesoura ou estilete, para remover calos;
  8. Usar calçados confortáveis e de tamanho apropriado, evitando calçados apertados, com bicos finos, salto alto, reentrâncias e costuras irregulares;
  9. Verificar a parte interna dos calçados à procura de objetos que possam machucar os pés;
  10. Lavar sempre os calçados ou expor ao sol para secar;
  11. Sempre calçar meias de algodão macias e sem costuras ao usar calçados fechados, e trocar as meias todos os dias;
  12. Evitar andar descalço, seja em ambientes fechados ou ao ar livre, inclusive dentro de casa;
  13. Antes de iniciar exercício físico, conversar com a equipe de saúde que lhe acompanha para indicar o melhor calçado;
  14. Procurar imediatamente uma unidade de saúde se uma bolha, corte, arranhão ou ferida aparecer;
  15. Em casos de ferimentos ou acidentes nos pés ou pernas, o tratamento precisa ser imediato para evitar complicações, como infecções e dificuldade de cicatrização das feridas;
  16. Nunca usar produtos como iodo ou corantes, band-aid ou fita adesiva diretamente na pele;
  17. Nunca tratar os ferimentos sem orientação médica, nem tomar ou aplicar qualquer substância por conta própria.

 

 

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